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Questões de Português - PM - 2005

LEIA O TEXTO ABAIXO E RESPONDA ÀS QUESTÕES DE Nº 01 A 20.

PROFETA GENTILEZA

Blaise Pascal (1623-1662), gênio da matemática, inventor da máquina de calcular, filósofo e
místico, percebeu, de golpe, a grande contradição dos tempos modernos que acabavam de se firmar:
a desarticulação entre dois princípios que ele chamou de esprit de géometrie e esprit de finesse.
Espírito de geometria representa a razão calculatória, instrumental-analítica, que se ocupa das
coisas, numa palavra, a ciência moderna que com seu poder mudou a face da Terra. Espírito de
finura, que nós traduzimos por espírito de gentileza, representa a razão cordial - logique du coeur (a lógica do coração), segundo Pascal - que tem a ver com as pessoas e as relações sociais, numa palavra, com outro tipo de ciência que cuida da subjetividade, do sentido da vida, da espiritualidade e da qualidade das relações humanas.
Ambas as razões são necessárias para darmos conta da existência. Que faríamos hoje sem a
ciência? Que seríamos sem a ética, os caminhos espirituais e a psicologia?

................................................................................................

Seguramente muitos do Rio se lembram daquela figura singular de cabelos longos, barbas brancas, vestindo uma bata alvíssima com apliques cheios de mensagens, um estandarte na mão com muitos dizeres em vermelho, que a partir dos inícios de 1970 até sua morte em 1996 percorria toda a cidade, viajava nas barcas Rio-Niterói,entrava nos trens e ônibus para fazer a sua pregação.
A partir de 1980 encheu as 55 pilastras do viaduto do Caju, perto da Rodoviária, com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização.
Não era louco como parecia, mas um profeta da têmpera dos profetas bíblicos, como Amós ou Oséias.
Como todo profeta, sentiu também ele um chamamento divino, que veio através de um acontecimento de grande densidade trágica: o incêndio do circo norte-americano em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, no qual foram calcinadas cerca de 400 pessoas. Era um empresário de transporte de cargas em Guadalupe e sentiu-se chamado para ser o consolador das famílias dessas vítimas. De súbito deixou tudo para trás, tomou um de seus caminhões e colocou sobre ele duas pipas de 100 litros de vinho e, lá junto às barcas, em Niterói, distribuía-o em pequenos copos de plástico, dizendo: "Quem quiser tomar vinho, não precisa pagar nada, é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido".
De José da Trino, esse era o seu nome, começou a se chamar José Agradecido ou Profeta
Gentileza. Interpretou a queima do circo como uma metáfora da queima do mundo, assim como está
organizado, como um circo, pelo "capeta-capital, que vende tudo, destrói tudo, destruindo a própria humanidade". Segundo ele, devemos construir outro mundo a partir da gentileza, o que ele fez em miniatura, transformando o local num belíssimo jardim, chamado "Paraíso Gentileza". Ensinava com insistência que "Gentileza gera Gentileza" e que, em lugar de "muito obrigado", devemos dizer "agradecido", e ao invés de "por favor", devemos usar "por gentileza", porque ninguém é obrigado a nada e devemos ser gentis para com os outros e relacionarmo-nos por amor e não por favor.
Não é exatamente disso que o Rio de Janeiro está precisando? Já dissemos que, junto com o
princípio de geometria, a gentileza funda um princípio civilizatório, princípio descurado pela modernidade e hoje de extrema importância se quisermos humanizar as relações demasiadamente funcionais e marcadas pela violência.
A crítica da modernidade não é monopólio dos mestres do pensamento acadêmico. O Profeta Gentileza, representante do pensamento popular e cordial, chegou à mesma conclusão que aqueles mestres. Mas foi mais certeiro que eles ao propor a alternativa:a gentileza como irradiação
do cuidado e da ternura essencial. Esse paradigma tem mais chance de nos humanizar do que aquele que ardeu no circo de Niterói: o espírito de geometria, o saber como poder e o poder como dominação sobre os outros e a natureza.

(Leonardo Boft, in Jornal do Brasil, 01 e 07 de maio de 2004, com adaptações)


QUESTÃO 01

De acordo com o texto, a grande contradição dos tempos modernos é a:

A) ausência de coesão entre duas razões imprescindíveis – a ciência e os valores subjetivos

B) falta de equilíbrio entre dois mundos – o contemporâneo e o antigo

C) fragmentação de duas visões contraditórias – aquela relacionada à espiritualidade e a subjetividade

D) ruptura entre dois princípios básicos – a razão calculatória e o poder da ciência


QUESTÃO 02

Em "...ambas as razões são necessárias para darmos conta da existência..." (L.1O),as "razões" a que o autor se refere são:

A) o espírito de geometria e o espírito de gentileza
B) a ciência moderna e o espírito de geometria
C) o espírito de finura e o espírito de gentileza
D) o domínio da subjetividade e a dimensão da espiritualidade


QUESTÃO 03

A "alternativa ao mal-estar de nossa civilização" (L.17) proposta por Gentileza é apresentada no seguinte segmento:

A) "A partir de 1980 encheu as 55 pilastras do viaduto do Caju, perto da Rodoviária, com inscrições em verde-amarelo..." (L.15/16)
B) "Como todo profeta, sentiu também ele um chamamento divino, que veio através de um acontecimento..." (L.20/21)
C) "O profeta Gentileza, representante do pensamento popular e cordial, chegou à mesma conclusão que aqueles mestres." (L.41 /42)
D) "...a gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essencial." ( L.42/43)


QUESTÃO 04

Em "...como Amós ou Oséas" (L.18/19), o valor semântico da palavra em destaque não é o mesmo da palavra sublinhada em:

A) "Não era louco como parecia..." (L.18)
B) " Como todo profeta..." ( L.20)
C) "...a queima do circo como uma metáfora..." (L.29)
(D) "...está organizado, como um circo, pelo capetacapital..." (L.30)


QUESTÃO 05

No segmento "...filósofo e místico, percebeu, de golpe, a grande contradição..." (L.1/2) - a expressão em destaque significa:

A) "com insistência" (L.33)
B) "demasiadamente" (L.38)
C) "seguramente" (L.12)
D) "de súbito" (L.24)


QUESTÃO 06

O profeta dizia: "Quem quiser tomar vinho, não precisa pagar nada". Passando este segmento do discurso direto para o indireto, resulta:

A) O profeta dizia que quem quiser tomar vinho não precisaria pagar nada.
B) O profeta diria que quem quiser tomar vinho não precisava pagar nada.
C) O profeta dizia que quem quisesse tomar vinho não precisava pagar nada.
D) O profeta diria que quem quisesse tomar vinho não precisará pagar nada.


QUESTÃO 07

“que tem a ver... (L.7) - a expressão em destaque deve ser usada para completar a lacuna da seguinte frase:

A) Para ___________ gentileza é urgente a reeducação de todos.
B) A violência tem ___________com a falta de gentileza.
C) É preciso ____________espírito de cordialidade entre as pessoas.
D)Há de___________________mais gentileza no mundo.


QUESTÃO 08

" ...até sua morte em 1996". O uso correto do verbo fazer, em relação ao tempo decorrido desde a morte de Gentileza, está expresso na frase:

A) Este ano fazem 9 anos que o profeta morreu.
B) Este ano devem fazer 9 anos que o profeta morreu.
C) Este ano faz 9 anos que o profeta morreu.
D) Este ano hão de fazer 9 anos que o profeta morreu.


QUESTÃO 09

"... percorria toda a cidade..." - a expressão em destaque pode ser substituída, sem prejuízo de significado, por:

A) toda cidade
B) todas as cidades
C) a cidade toda
D) as cidades todas


QUESTÃO 10

O adjetivo presente na expressão "figura singular" (L.12) não corresponde semanticamente a:

A) extraordinária
B) única
C) especial
D) comum


QUESTÃO 11

"...foram calcinadas cerca de 400 pessoas" - A frase que se faz acompanhar de expressão que preenche adequadamente sua lacuna é:

A) O Profeta pregou o princípio da gentileza___________ de 35 anos. (acerca de)
B) Nada falarei _______________ violência. (a cerca de)
C)____________) 9 anos o Profeta faleceu. (Há cerca de)
D) S. Paulo, que também é uma cidade violenta, fica ________400 km do Rio. (há cerca de)


QUESTÃO 12

Em " ...e relacionarmo-nos por amor..." ,a preposição em destaque tem valor semântico de:

A) concessão
B) finalidade
C) conclusão
D)causa


QUESTÃO 13

Representa recurso coesivo o termo em destaque usado no segmento:

A) "Não é exatamente disso que o Rio de Janeiro está precisando?" (L.36)
B) "De José da Trino, esse era seu nome..." (L.28)
C) "Interpretou a queima do circo como uma metáfora..." (L.29)
D) "...e ao invés de por favor... "(L.34)


QUESTÃO 14

Em "princípio descurado pela modernidade" (L.37), o adjetivo significa:

A) privilegiado
B) negligenciado
C) perpetuado
D) monopolizado


QUESTÃO 15

Em "...pensamento popular e cordial." (L.41), o radical do vocábulo sublinhado está presente também na palavra destacada na frase:

A) Ele tinha a pele corada de andar sob o sol.
B) A coreografia que acompanhava sua pregação a todos encantava.
C) O Profeta tinha decoradas suas preleções.
D) O Profeta incorporava todos os sentimentos de solidariedade.


QUESTÃO 16

Em "... entrava nos trens e ônibus para fazer sua pregação" – a expressão em destaque indica finalidade. A preposição de também foi empregada com valor de finalidade na expressão:

A) máquina de calcular
B) espírito de geometria
C) muitos do Rio
D) inícios de 1970


QUESTÃO 17

A expressão "circo norte-americano" (L.21) é formada por um substantivo e um adjetivo composto.Dentre os adjetivos compostos apresentados abaixo, está corretamente flexionado:

A) pregação teórica-bíblica
B) interpretação técnica-profissional
C) mensagem crítica-conciliatória
D) política econômico-financeira


QUESTÃO 18

"Seguramente muitos do Rio se lembram daquela figura..." (L.12) - neste segmento, o verbo lembrar apresenta a mesma regência que na frase:

A) O profeta Gentileza lembra Amós ou Oséias.
B) Não me lembro de outro personagem como Gentileza.
C) Ninguém lembra o verdadeiro nome de Gentileza.
D) É importante lembrar a necessidade de ser gentil.


QUESTÃO 19

"Como todo profeta, sentiu também ele um chamamento divino..." (L.20) - este segmento apresenta alteração de sentido se reescrito do seguinte modo:

A) Sentiu,também ele,como todo profeta,um chamamento divino.
B) Como todo profeta, ele sentiu um chamamento também divino.
C) Ele também sentiu, como todo profeta, um chamamento divino.
D) Também ele sentiu, como todo profeta, um chamamento divino.


QUESTÃO 20

A palavra distribuía-o é acentuada pelo mesmo motivo que:

A) paraíso
B) bíblicos
C) famílias
D) princípio


Gabarito

01.A; 02.A; 03.D; 04.A; 05.D; 06.C; 07.B; 08.C; 09.C; 10.D; 11.C; 12.D; 13.A; 14.B; 15.C; 16.A; 17.D; 18.B; 19.B; 20.A

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